Ouve-me.
O corpo também fala.
Há palavras que não cabem na boca.
As palavras não existem na paisagem em que me deito. Contigo.
Não temos signos. Temos o calor do corpo e o pulsar das veias.
Temos o coração que bate. O coração que fala.

Ouve-me.
Na minha pele os poros respiram.
Aproxima-te. Escuta-me com a tua.
Podes sentir o pulsar do meu peito que bate rente ao teu.
Vamos enrolar os corpos. Um no outro.
Vamos falar.
as mãos e os dedos. dois momentos dos nossos corpos que se estendem como ramos de árvores. com a mesma cadência. para o ar e para a terra. para o teu corpo e para o meu. as mãos cheias de terra, cheias de corpo que passam pela tua pele. as mãos cheias de tempo que as rugas vão desenhando nelas.
como radículas, são essas rugas que me agarram à  terra. há nas mãos momentos de encontro, enlaces filiais que se ganham com outros corpos. com objectos. há nas mãos um sentido, um lugar. um lugar que pulsa com a terra como o sangue nas veias. há nas mãos força. identidade. memória. querer.
e há amor entre os meus dedos e os teus. onde nascem raízes que nos encostam ao chão. temos água, temos terra, temos ar. temos isto tudo. somos mãos cheias de dedos.


circadian eyes - reaching hands (fonte: youtube.com)
com: Postcards.from.bodyland